domingo, 31 de maio de 2009

Para ver através da cegueira

Perturbador. Essa pode ser a definição da adaptação feita por Fernando Meirelles para o livro de José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008). A história é sobre uma epidemia contagiosa que surge sem explicação e deixa as pessoas cegas. Chamada de "cegueira branca" porque as pessoas só enxergam uma superfície branca, essa doença se espalha rapidamente e o governo, em uma forma de conter a expansão, coloca em quarentena todos os portadores dessa doença. Entre os infectados está um médico oftalmologista (Mark Ruffalo). Ele é levado para a quarentena e sua esposa (Julianne Moore) se diz cega também para poder ajudá-lo. Sorte a dele (e dos outros que estão la também). Com o passar do tempo, mais pessoas são infectadas e o medo das demais pessoas em contrair a doença faz com que eles fiquem a mercê da própria sorte e trancafiado em um prédio, do qual são impedidos de sair. A partir daí acontece uma verdadeira guerra para sobreviver, literalmente às escuras: viver num local cheio de dejetos humanos, roubo, sexo por comida... O ser humano perde completamente o sentido do respeito pelo próximo e os instintos mais primitivos vêm à tona. Porém, não há cenas gratuitas e muita coisa pode ser interpretada pelo espectador. O que torna o filme não tão agressivo psicologicamente.
Além disso, o filme mostra uma humanidade reconfortante presente nos personagens principais. Não tenho a pretensão de comparar o livro com o filme, mas ele foi muito criticado durante a sua estréia no Festival de Cannes em 2008. Um crítico do Times chegou a chamar o filme de "deprimente". Eu discordo totalmente, o filme tem o seu mérito e deixa o telespectador pensativo em relação ao comportamente humano frente às mais difíceis adversidades e mostra um realismo surpreendente (coisa que Meirelles já provou e comprovou em Cidade de Deus). Altamente recomendável!!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Os 5 finais mais surpreendentes do Cinema

Listas sobre qualquer coisa sempre dão o que falar. Já que todo mundo faz uma lista dos 10 ou 20 mais ou melhores sei lá o que, eu resolvi eleger os cinco (sim só 5 mesmo, meu conhecimento não é tão grande assim) finais mais surpreendentes do cinema. Então lá vamos nós:

5º Lugar: Hair (Hair, 1979)

Como bem disse Marcelo Janot uma vez: "Com uma trilha sonora antológica", esse filme conta a história de Claude (John Savage) que sai do interior para ir lutar no Vietnã. Em Nova York conhece um grupo de hippies liderados por Berger (Treat Williams) (foto acima) e uma moça de família rica, Sheila (Beverly D'Angelo), por qual Claude se apaixona. Encurtando a história, Claude vai para o treinamento militar um pouco antes de ir para o Vietnã e os seus amigos hippies e Sheila vão resgatá-lo da vida militar. Tramam uma estratégia para conseguir entrar no campo de instrução e é aí que vem o final surpresa do filme. A cena final com uma multidão cantando o clássico Let the sunshine in na frente da Casa Branca fecha o filme com chave de ouro. Vale a pena conferir...

4º Lugar: Um Corpo que Cai (Vertigo, 1958)


É claro que na minha lista tinha que ter um filme do Hitchcock. Este que em várias listas especializadas está entre os 10 melhores filmes de todos os tempos, conta a história do detetive Scottie (James Stewart, o mesmo de Janela Indiscreta) que se aposenta após deixar um companheiro de polícia cair de um prédio, devido ao seu medo de altura, que acaba o deixando com vertigem (daí o nome em inglês do filme). Gavin (Tom Helmore) contrata os serviços de Scottie para vigiar a sua mulher Madeleine (Kim Novak), a qual tem um comportamento suicida e não lembra de coisas recentes que acaba de fazer. No desenvolver da história, Scottie acaba se envolvendo com Madeleine, mas novamente devido ao seu medo de altura, não consegue impedir o suicídio de Madeleine. Acontece que um tempo depois, surge Judy (Kim Novak), uma moça idêntica a Madeleine. Será que Scottie está tendo alucinações? Judy seria uma irmã gêmea de Madeleine? Bom, descubra o segredo da morte de Madeleine e a cura do trauma de Scottie vendo esse filme que, com certeza, possui um dos finais mais surpreendentes do cinema.

3º Lugar: Os Outros (The Others, 2001)

É normal que em uma lista de filmes sobre os finais mais surpreendentes seja dominada por filmes de suspense. Afinal, esse é combustível que leva o telespectador ficar sentado por um bom tempo até descobrir o que realmente está acontecendo. Os Outros é um filme que te deixa ligado do começo ao final, e no final ele te deixa de boca aberta. O filme conta a história de Grace (Nicole Kidman) e seus dois filhos, Charles (Christopher Eccleston) e Anne (Alakina Mann), que vivem isolados de tudo e de todos numa mansão sombria. Quando Grace contrata três empregados para a ajudarem a tomar conta da casa, situações estranhas começam a acontecer. A partir daí Grace parte em busca de quem são "os outros" que a querem fora da sua própria casa. O clímax do filme, obviamente, é a parte final, um final totalmente inesperado! O clima criado pela fraca iluminação, já que os filhos de Grace não podem ter contato com luz, é um dos pontos altos do filme, o que proporciona excelentes takes e truques de iluminação. Com certeza, um dos melhores filmes recentes de suspense. Mas a graça dele é só na primeira vez!!

2º Lugar: Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006)

Pode parecer estranho esse filme estar nessa lista. Mas uma coisa que eu sempre digo: "O melhor do filme é o final". E esse filme me ganhou no final. Eu quase dormi a primeira vez que eu vi, mas quando chegou no fim, eu entendi a genialidade do filme. Uma pena que não ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2007 (naquele ano, o prêmio foi para Os Infiltrados, de Martin Scorsese, que com certeza não é o melhor filme dele). Mas a Academia não tem sido coerente há muito tempo....(um dia eu ainda escrevo sobre isso). A história é sobre uma família norte-americana formada pelo pai obcecado pela vitória, Richard (Greg Kinnear), mas que na verdade é um perdedor total, a mãe Sheryl (Toni Collette), o filho mais velho que fez voto de silêncio e é fissurado em Nietzsche, Dwayne (Paul Dano), o avô viciado em heroína (Alan Arkin), o irmão de Sheryl, um escritor homossexual suicida, Frank (Steve Carrel) e a pequena barrigudinha Olive (Abigail Breslin). A história começa quando Olive é chamada para um concurso de beleza infantil, o Pequena Miss Sunshine, e a família parte para a Califórnia realizar o sonho da filha. Durante a ida, em uma kombi que só pega no tranco, vários problemas familiares vem à tona. Finalmente, na hora da apresentação solo de Olive no concurso, o mais inesperado e incrível acontece. É um filme com uma história simples e excelentes interpretações, com destaque para Abigail Breslin, indicada a melhor atriz coadjuvante, e Steve Carrel, um ator reconhecidamente de comédia, mas que se saiu muito bem, além de Alan Arkin (o avô), que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Realmente um filme pra ser ver e rever. Nesse, ver o final não é motivo para não voltar a vê-lo.


1º Lugar: Psicose (Psycho, 1960)


Obviamente o primeiro lugar tinha que ser um filme de suspense. E no quesito suspense e finais surpreendentes, ninguém supera Alfred Hitchcock (é, já ta ficando repetitivo...). Em Psicose, a obra máxima de Hitchcock na minha opinião, o suspense percorre todo o filme a partir do momento em que a secretária Marion Crane (Janet Leigh) rouba 40 mil dólares do seu chefe, foge a acaba passando o pernoite em um motel de beira de estrada. Quem a recebe é o dono do motel, Norman Bates (Anthony Perkins). Ele mora sozinho com a sua mãe e não costuma receber muitas visitas. Esse filme possui uma das cenas mais clássicas da história do cinema, quando a secretária é morta a facadas durante o banho com aquela música penetrante, virou sinônimo de cena de suspense. A partir dai o que se desenrola é a busca de Lila (Vera Miles) e Sam (John Gavin), respectivamente a irmã e o affair de Marion, pela secretaria desaparecida. Para descobrirem o que aconteceu com Marion eles se hospedam no motel e acabam mergulhando num mundo sombrio e doentio vivido por Norman Bates e sua mãe. Nenhum outro filme me deixou tão perplexo no final como esse. Para mim o final mais surpreendente da história do cinema!!! Esse sim é obrigatório para qualquer um que goste de cinema. Mas vejam a versão original em preto e branco (já tinha a opção de gravar colorido, mas Hitchcock preferiu em preto e branco para não parecer tão sangrento, e isso não altera em nada a qualidade do filme).

Bom, essa foi a minha lista e as minhas recomendações...Bom filme!!!


terça-feira, 26 de maio de 2009

Já que o Blog é pra falar sobre cinema, vou começar com o último filme que eu vi, "Janela Indiscreta" (Rear Window, 1954) do Hitchcock. Não há dúvida que Alfred Hitchcock é um dos gênios no cinema (é, no tempo presente mesmo, porque a sua obra é inesquecível e parada obrigatória para qualquer mortal sobre a Terra). O primeiro filme dele que eu vi foi "Psicose" (Psycho, 1960), seguido por "Um Corpo que Cai" (Vertigo, 1958). Ambos os filmes possuem finais surpreendentes, daqueles que o telespectador não consegue tirar os olhos da tela. Acho que por isso, criei uma expectativa muito grande em relação ao final de "Janela Indiscreta". Claro que não vou contar o final do filme aqui, mas eu esperava algo mais.
Eu não estou dizendo com isso que o filme não deva ser visto. Pelo contrário, recomendo fortemente. As várias janelas abertas de frente para o apartamento de Jeff (James Stewart) e seu impulso incontrolável para ver o que se passa com a vida alheia é um convite irrecusável feito ao telespectador. Ele não é um voyer nato, mas como está com os movimentos limitados devido a uma fratura na perna, o dia-a-dia dos vizinhos se torna o seu principal passatempo. Existem vários tipo urbanos presentes nas "janelas " de Jeff. Desde a moça de meia idade que mora sozinha, a Sra. Coração Solitário (Judith Evelyn), e que fantasia em receber um pretendente em casa, até a senhorita Torso (Georgina Darcy), uma bela bailarina que desfila e dança de roupas íntimas dentro de casa a maior parte do tempo. Ou ainda, o pianista que mora sozinho e o casal em lua-de-mel que nunca abre as janelas. Não há como não se identificar com algumas das situações vividas pelos vizinhos de Jeff e pelas situações vividas por ele próprio. A impressão que eu tive, é que ao mostrar uma determinada situação nos apartamentos vizinhos, a expressão de Jeff deveria ser muito semelhante a minha. Às vezes de consternação, outras de alegria...Isso também é uma grande sacada do filme, que faz o telespectador se identificar com as expressões do seu protagonista.
Claro, que por se tratar de um filme de Hitchcock, o foco da história é centrada em um suposto assassinato cometido por um vizinho de Jeff, o senhor Thorwald (Raymond Burr). Jeff desconfia que Thorwald assassinou a esposa, e conta com o apoio da namorada milionária Lisa (Grace Kelly) e da enfermeira que o auxilia, Stella (Thelma Ritter). A desconfiança é tão grande que ele convence o seu amigo policial (uma constante nos filmes de Hitchcock) Doyle (Wendell Corey), a ir atrás de uma caixa de madeira que o seu vizinho enviou, e que Jeff acredita, ser o corpo da Sra. Thorwald. Doyle não dá muito crédito para o amigo, o que leva a Jeff, Lisa e Stella agirem por conta própria. Daqui pra frente não dá pra contar, mas é onde o filme fica mais intenso e o expectador acaba se locando na cadeira de rodas de Jeff, com tomadas perfeitas do campo de visão dele. Com esse filme, Hitchcock reafirma ser um gênio ao mostrar ao telespectador o dia-a-dia de pessoas comuns e na angústia da busca da verdade vivido pelo personagem principal. Tudo isso, antes da sua obra máxima (na minha singela opinião), Psicose.
Mas fica a dica para quem ainda não viu, já que hoje estamos tão acostumados a espiar (como diz o Pedro Bial, nesses tempos de Big Brother), vamos espiar situações mais humanas e ver as pessoas com os olhos de Jeff (ou do prórprio Hitchcock). Bom filme!